quinta-feira, 24 de julho de 2008

o fim do romantismo dos aeroportos



Em 1974, não sabíamos o que fazer.
Estávamos em Angola há 11 anos e há 7 que não voltávamos a Portugal.

No alto dos meus 13 anos, não imaginava viver fora de Luanda, cidade que todos amávamos profundamente.
Porém os traços incandescentes das primeiras trocas de fogo sobre o Norte de Luanda, levou-nos a ir para Lisboa à experiência...
Comprámos bilhetes para poucos dias depois, com algum favor.
As viagens de avião sempre tinham sido agradáveis para mim, até então...
Mas a TAP sobrecarregada de trabalho, fretou alguns serviços a outras companhias mais ou menos conhecidas.
Calhou-nos uma desconhecida, a BWA "Bahamas World Airways", com um Boeing 707 velho, mais curto que o normal e com menor autonomia.
Soube depois, que esta companhia estava em processo de liquidação e que deixou de existir poucas semanas mais tarde.
As cadeiras eram desconfortáveis e o pessoal de bordo ineficaz.
Fizemos escala no Sal, Cabo Verde, para reabastecer o avião.
A viagem foi longa e cansativa. À chegada a Lisboa, estivemos quase uma hora à espera de ordem para aterrar.
Foi um sofrimento interminável, com os poços de ar constantes e ventos habituais em pleno Verão sobre Lisboa.

Sempre gostei de aviões e do ambiente dos aeroportos.
Em Luanda, faziam-se serões na esplanada do aeroporto.
Aquele espaço e aquele ambiente eram muito agradáveis e elegantes.
Até o movimento próprio do aeroporto, dos passageiros, das mercadorias, das chegadas e das partidas espaçadas e ordenadas dos aviões era elegante.
Sei agora, que esse ambiente corresponde na linguagem dos apreciadores das viagens de avião, à "época romântica da aviação".

Pois à chegada ao aeroporto de Lisboa, e depois daquela exasperante experiência até aterrar, entrámos no que parecia o caos do movimento e do ruído.
Depois, ficámos em casa de uns tios em Sacavém por umas semanas, até decidirmos o que fazer.
Não sabíamos se íamos ficar 1 mês ou 1 ano.
Durante essas talvez duas semanas, aquele ruído dos aviões que eu achava encantador, tornou-se insuportável pela proximidade da casa onde estávamos, do aeroporto.
É preciso lembrar que naquela altura, os aviões propagavam o seu ruído, sem exagero, 10 vezes mais do que agora. Hoje, naquele local de Sacavém, quase não se ouve 1 avião...

Em 1975, concluímos que não estávamos no nosso mundo e decidimos regressar a Luanda. Chegámos na noite de 2ª para 3ª fª de Carnaval. Tinha começado a luta sangrenta entre o MPLA e a FNLA, o recolher obrigatório, a falta de alimentos e de bens essenciais...
originalmente postado aqui, mesmo