quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Avenida David Bowie

Era uma noite de Verão e estava em Lisboa. Tinha ouvido anunciar para pouco depois, a ópera de uma banda de rock com performances circenses, no recém-inaugurado "Lisbon Galactical Forum", na zona Oriental da cidade.
Estudei o mapa da Carris. Decidi apanhar o autocarro para Chelas. Passaram autocarros silenciosos, movidos a electricidade por hidrogénio. Chegou finalmente um para Chelas. Era um MAN antigo a gasóleo, dos anos 1980. Tinha para aí 60 anos e chocalhava por todos os lados. Pelo aspecto dos passageiros, percebi que estava numa viagem de risco. Mas a presença a bordo de 4 agentes da polícia, descansou-me. Pergunto ao agente que estava mais perto de mim, onde era a Avenida David Bowie. Respondeu-me que essa avenida tem 30Km... Perguntei-lhe então se me poderia avisar quando nessa avenida passássemos pelo Galactical Forum. Respondeu-me que sim e eu agradeci.

Atravessávamos amplas avenidas esplendidamente iluminadas, ladeadas por modernos edifícios. Num cruzamento, parámos. Havia confusão. Encostado a uma janela do lado direito, vi uma mota e um carro parados, possivelmente por um acidente. Perto, um carro da polícia e dois agentes, barravam a passagem do trânsito. Um homem com jeans e T-shirt sujos e um casal com roupa de cabedal de motociclistas, discutiam. Ela tinha uma saia muito curta com collants vermelhos que se avistavam até aos quadris. Tinha o blusão aberto e nada mais lhe cobria o tronco. O outro motociclista, também tinha blusão aberto mas tinha uma T-shirt. Estava todo sujo de lama e estava ferido, pelo menos na face. Os dois homens discutiam agressivamente, enquanto a mulher gritava ofensas para o ar.
Nisto, o motociclista sacou de uma pistola que tinha nas costas. Enquanto a aponta ao outro homem, os agentes na rua correram para trás dele e apontaram-lhe as suas armas à cabeça.
No autocarro onde eu estava, os 4 agentes e mais um à paisana com boné de baseball e aspecto chunga, accionaram o comando de abertura manual da porta de saída e num ápice se colocaram atrás dos outros agentes, apontando também as suas armas à cabeça do motociclista. Este, sentindo-se dominado, atirou a arma ao chão e foi algemado. O outro, acendeu um cigarro. O da mota, continuou a discutir, mostrando um buraco chamuscado na T-shirt. Dizia-lhe: "put on the light here!" O outro, tirou uma lanterna do bolso e apontou a luz. "Do you see this burned hole? It was your bullet".
O outro afastou-se em direcção a mim, com a ponta do cigarro na mão. Ergueu o braço junto à minha janela, e por entre alguma fenda, lançou sobre mim a beata acesa.
Surpreendido com aquele acto e assustado com a perspectiva de ser queimado, dei um salto.

O autocarro seguiu viagem e só então reparei que todo aquele painel onde eu estive encostado, estava completamente solto em cima.
Perguntei ao agente se faltava muito para o meu destino. Respondeu que já tínhamos passado... Aborrecido e conformado, tento perceber onde estava. Íamos muito depressa, com aquele lado do autocarro a ameaçar ficar na estrada a cada curva para a esquerda.
É então que entrámos numa espécie de casbah. Todo pré-fabricado, com estruturas em alumínio e painéis sintéticos, todo branco e cheio de luz.
O espaço era totalmente coberto e o autocarro seguia com prudência entre pessoas que circulavam calmamente.
Por entre as lojas do casbah, havia roulottes também imaculadamente brancas e todas iguais.
Naquele espaço todos eram estrangeiros: russos, ucranianos, ingleses, alemães, marroquinos, cabo-verdianos... Não se ouvia uma palavra em português.
É então que vejo uma angolana a apregoar banana assada. Decidi sair ali.

Acordei e fiz um café com leite. Contei este sonho à minha filha e ela pediu-me para o postar.
originalmente postado aqui, mesmo

gritos mudos

26 de Agosto, 16h45', A5, descida Carnaxide-Jamor: trânsito intenso, compacto mas fluido, rolando a 90-100Km/h nas 3 faixas.

Estou nas calmas, mudo para a faixa da direita.
De repente, tudo trava. À minha frente, tudo o que vejo é uma descida em curva para a esquerda, com mais de 30 carros em paragem. Onde estou, não se percebe o que se passa para além dos 150m que vejo. Atrás de mim, ouço travagens. Ao meu lado e à frente, vejo mudanças de direcção aflitas.
Pouco depois, ao meu lado, retomam o ritmo normal. Mudar de faixa é complicado, porque já se roda a 100 em comboio compacto ao meu lado, mas continuo a 40... Finalmente consigo uma aberta e mudo rapidamente.
À frente da fila onde estava, segue um Lancia Y azul-violeta. Não vai a mais de 40km/h.
Enquanto avanço, tento perceber a razão daquele perigoso comportamento, mas nenhum sinal de avaria.
Num ápice, fito quem conduz. Não há sinais de tensão ou temor. Um rosto feminino alvo de porcelana, cabelo platinado pelo pescoço e com franja. Não é jovem, mas é bela. Tem a expressão mais ausente deste mundo...

Pergunto-me porquê a beleza não é poupada à desgraça, como às obras de arte condignamente expostas...


Heidi Mount

"Gritos mudos chamando a atenção para a vida que se joga sem nenhuma razão"
(xutos)
originalmente postado aqui, mesmo

sábado, 23 de agosto de 2008

eclipse



There was a lunar eclipse last week.
The sundown was 2 hours before. The shadow of our hands wouldn't appear on the moon.
And we couldn't do the loving hands dance.
Remember our hands dancing in the air? Tenderly drawing love?




variação deste post

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Jane says

originalmente postado aqui

terça-feira, 5 de agosto de 2008

reflexão em tempo de férias




lyrics

Revejo-me completamente em alguns (mto poucos) cineastas.
Wim Wenders é um deles.

Universal, adoptou Berlim, Los Angeles, Lisboa, como alguns dos seus espaços.
Lisboa de "O Estado das Coisas" e de "Lisbon Story (Sob os céus de Lisboa)".
Lisboa da saudade, do desejo do sonho...
Do ponto do impasse sem retorno nem resposta.
Apenas da partida adiada.
Como um incógnito universal que olha do castelo a foz de Tejo como a saída para o desconhecido. Tão perto, mas tão longe...

variação deste post