terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Boas Festas



Na festa do solistício, tomada pelos cristãos ao povo, que celebrava o fim das trevas, que meditava no passado e fazia votos para o futuro, enfeitava as casas de cor, luz e alegria, distribuía mais amor às crianças e alimentava a esperança de um mundo melhor, esta podia ser uma canção tocada à lareira numa roda de gente boa:


originalmente postado aqui

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Como é Lisboa, Artur?

Já disse que gosto muito, muitíssimo, de estórias bem contadas?

"Viriato 25", é um programa de rádio que fez há dias 1 ano. Da autoria de António Sérgio para a Radar, tem uma rubrica denominada "tira linhas", com narrações gravadas de Ana Cristina Ferrão.

Hoje, terminou aí pela 4ª vez (e não me canso) a narração de "A História do Hidroavião", de António Lobo Antunes. Encantadora:

"Era uma vez um homem sentado diante de casa, a olhar para o rio. Casa é maneira de falar porque não se pode chamar casa a uma barraca de tábuas costuradas com arame e reforçadas de placas de cartão, com um pedaço de zinco a servir de telhado. Mas nessa parte da cidade, em Cabo Ruivo, ao pé dos fumos da Siderurgia, quem tinha chegado de África, como o homem, sem mais roupa que a do corpo e sem mais bagagem que um baralho de cartas, era dessa forma que se governava. O Boeing de Angola desembarcava em Lisboa as pessoas fugidas à guerra, e no dia seguinte lá andavam elas, truca truca, truca truca, a martelar cabanas num baldio de ervas frente aos vapores do Tejo, entre armazéns ao abandono e um hidroavião que era um esqueleto de morcego, com a pele de lona a desfazer-se debaixo da surpresa das gaivotas.

Barracas assim contavam-se para cima de três dúzias, umas mais perto outras mais longe da água, feitas com os desperdícios de uma obra (tijolos, pranchas, areia, ruínas de andaime) que não se completara sabe Deus porquê ...

... havia crianças mulatas a brincarem com bocaditos de canas, havia a cidade que parecia um grande pulmão de chaminés e janelas a respirar nas costas do homem, e havia sobretudo o rio, que para aquelas bandas, a bem dizer, nem rio era: um pântano cinzento, horizontal até aos morros de Alcochete, ou do que, para viajantes de Angola, se calculava que fosse Alcochete, a brilhar, à noite, lantejoulas de leque sevilhano.

Ao homem sentado diante de casa tanto se lhe dava que se tratasse de Alcochete, Nova Iorque ou Paris: tinha um rectângulo de cortiça nos joelhos, para a paciência das cartas, e ao levantar os olhos do baralho, com a cabeça ainda em Luanda, não era o Tejo que via: era uma ilha de palmeiras, uma concha de arcadas com aves pernaltas nas empenas, e fragatas a gasóleo largando para a pesca, num rastro de motores e batucada.

O homem morou quarenta e sete anos em África, a trabalhar de motorista de camião ao serviço dos holandeses dos diamantes e custava-lhe habituar-se a uma terra de frio onde ninguém o conhecia, tirando os vizinhos de desgraça que dividiam com ele uma língua de lama e alforrecas, furtada aos desenfados do rio.
...
De forma que estava o homem diante de casa, às voltas com ases e manilhas, e sentado ao lado dele, num balde ao contrário, um cego de óculos de mica. Muito direito, atento com os ouvidos que é como os cegos vêem, a enrolar uma mortalha com deditos de croché, e mal os sons rareavam, sinal de que o homem hesitava a pensar, o cego perguntava logo, inquieto:

— Como é Lisboa, Artur?

E, ao fim de um silêncio comprido, o homem, a desfazer a paciência com a mão aberta e a olhar para Alcochete:

— Lisboa?

Guardava as cartas de má morte no bolso, e ficava-se, de pálpebra rancorosa, no hidroavião, à medida que pelas redondezas começava uma agitação de ralhos e de caldos em púcaros de folha, que era o jantar de quem viera de Angola, sem dinheiro para uma quarta de chouriço. O homem não comia: demorava-se crepúsculo adentro até o hodroavião desaparecer nas luzinhas de Alcochete ou de Paris, que para os nascidos em África, como era o caso, era igual ao litro, e o cego ao lado dele, também sem caldo, impassível nos óculos de mica, a puxar fósforos e a acender o cigarro na colher da mão. Já estava tudo escuro, só candeeiros a tremelicarem ao longe e um ventinho nas ervas, e o homem, de gola levantada por causa das traições da bronquite, a pensar que ele e o baralho se achavam em Portugal há três semanas no mínimo ... e nisto o cego, curioso, a chupar o cigarro, numa voz que se confundia com os grilos:

— Como é Lisboa, Artur?
...
De ideias fixas o cego, pensou o homem cuja cabeça continuava no canto oposto do mar, agarrada ao musseque onde crescera, entretendo-se sozinho no quintal das traseiras, sob um braço de tília. De certo modo, embora estivesse em Cabo Ruivo permanecia em África, com a mãe e as irmãs mais velhas ... e, por estranho que parecesse, o que recordava melhor não eram coisas de adulto, já homem, já motorista dos holandeses dos diamantes, a conduzir um camião para cá e para lá, de Malanje a Luanda e de Luanda a Malanje. ...

Fixava-se no hidroavião a olhar as asas tombadas, os flutuadores, que pareciam pantufas gigantescas de caminhar sobre as marés do Tejo, as cadeiras sem passageiros, a hélice de moinho de poço, o lugar do piloto encostado ao volante, parecido com o dos camiões dos diamantes: só não havia a mascote da pretinha de tanga, pendurada de uma guita, a dar-a-dar no espelho. Isso, pensou o homem, não constituía problema: a questão era uma pessoa instalar-se ao guiador, que em chegando a Luanda encontraria, apesar da guerra que por lá faíscava, a destruir vivendas e jardins, uma capelista pronta a vender uma mascote nova, de modo que alcançaria Malanje com a boneca, toda contente, a dançar merengues no vidro. Quanto a colegas de viagem, que de Lisboa a Malanje é um esticão, convidava o cego que, como ele, não tinha caldo nem família, e de caminho dava uma volta sobre Cabo Ruivo e explicava-lhe a cidade: monumentos, estátuas, igrejas, o carrossel do oito, bairros de ricos, tudo. Largariam de manhã cedo, à hora a que os albatrozes se levantam das mimosas do lodo e o nevoeiro se esfuma em Alcochete, Nova Iorque ou Paris, mostrando paus de fio e telhados tremendo à flor da água, e o indiano do automóvel das Américas, incrédulo:

— Esse hidroavião não vale nada, coitado.

E realmente não parecia valer nada: em três semanas que o homem ali estava, sentado diante de casa com o baralho de cartas, o hidroavião quietinho, sem que um farrapo de lona se mexesse ao vento, sem que o leme da cauda desse sinal de abano, sem que qualquer luz se acendesse na carlinga. Resumindo: sem nenhuma vontade de voar. Um trambolho, decidiu o homem, uma coisa inútil, uma gaivota morta, e continuou a pensar isto à medida que se dirigia para ele, escoltado pelo cego dos óculos de mica, muito direito, muito seguro do caminho, a tricotar a erva com a bengalinha de metal. Sentou-o num lugar à janela, recomendou-lhe:

— Segura-te.

Ocupou o volante, experimentou os pedais, as alavancas e as manivelas perras, e voltou a cabeça para informar o outro:

— Aguenta um bocadinho que já te mostro Lisboa.

Anos depois, muitos anos depois de o homem e o cego terem levado sumiço, sabe-se lá para onde, o indiano continuava a jurar, a quem o queria ouvir, que o hidroavião não saiu do mesmo sítio, não se deslocou um milímetro, não se ergueu nem isto do pontão. E é neste ponto que as divergências começam: há quem garanta que os empregados da Câmara vieram com uma furgoneta e transportaram para a sucata aquele morcego sem préstimo. Mas há também quem afirme, pronto a jurar, que o hidroavião, com o homem e o cego dentro, correu um nadinha na água, subiu a pino, e partiu, sobre Lisboa, na direcção de Luanda, na direcção do mar. E acrescenta quem sabe que se via um braço, saído de uma janela, a mostar monumentos e igrejas a uns óculos de mica, e uma pretinha de tanga, muito alegre, suspensa de um cordel, a dar-a-dar no pára-brisas em acenos de adeus."

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

today's jam


bangers 'n' mash, radiohead

domingo, 14 de dezembro de 2008

bolota

Uma alface, uma cenoura, um alho francês, um bacalhau, tudo no saco das compras que foi ao mercado.
Duas designers, fartas de verem brinquedos, objectos decorativos e utensílios diversos em plástico,
decidiram criar as mesmas coisas em feltro.

O resultado é o que pode ser visitado em: "bolota".



the magic carpet


This lovely picture, came from Valerie Walsh.
Please, visit her.

"dreamin', I'm always dreamin'..." (Lou)

sábado, 13 de dezembro de 2008

... and in the end ...

é Natal, ninguém leva a mal...

Há pessoas que não consigo entender.
Nem consigo pactuar com elas.
É qualquer coisa de intestinal.
São intrinsecamente falsas, egoístas, más, nada fazem pelos outros, enganam e mentem todo o ano, e depois, são as primeiras a desejar Boas Festas, Santos Natais e outros cinismos que tais, com uma tal antecipação que me fazem estrebuchar nas minhas navegações, e olhar para o relógio perguntando-me: "JÁ"?
Provocam-me indigestão e vómitos.
São como os que na Índia se banham numas águas imundas para se lavarem de todos os males, ou como aqueles beatos que levam toda a semana a fazer mal ao próximo, para depois se limparem numa missa e terem um santo Domingo, nem que seja por uma hora.
Que fiquem longe, porque "pró ano" voltam ao que sempre foram.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

não está certo


daqui

Não está certo...
Uma mulher que guia assim? Não está certo...
E agora? Quem tem coragem de a ultrapassar?
Só se for outra mulher...

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

I was a cloud



~original lyrics: I was a cloud. I was a cloud looking down. Your frantic waving did not provoke feeling. But this little one. Steady your wings, now, sparrow. I remembered him. Steady your wings, now, sparrow.
And in the dark; from the sea marbled and moon-blue; into the burning eye of the sun; without feeling; my end was imminent.
Steady your course now, sparrow. But I remembered him. Fear for your home life, sparrow. Fear for your home life.

originalmente postado aqui

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

long long long



originalmente postado aqui
Bom FDS

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Angola no Coração

:-) é tão bom ler este slogan!

variação deste post

sábado, 29 de novembro de 2008

a Costa é que paga


Eu lembro-me da Costa da Caparica, com um areal imenso, e barcos com olhos nas suas proas elevadas ao sol.



Entrava nos barcos e quando alcançava a proa tinha vertigens. Ir da barraca à água, era uma caminhada enorme que queimava os pés.
Isto foi no tempo em que foi feita a Doca-Pesca de Algés, no tempo em que Algés perdeu a praia…

Depois, foi ampliada a doca de Alcântara, aterraram toda a margem do Dafundo, Gonçalo Byrne desenhou a torre que barra aquela foz, perdeu-se nela o areal do Bugio e até o forte do farol teve de levar mais areia e pedras para não ser engolido pelo mar…



O rio tem de correr para algum lado e se já não pode para Noroeste, vai para Sudoeste…
E a Sudoeste está … a Costa da Caparica… Ou o que resta dela...

terça-feira, 25 de novembro de 2008

on a jazzy blue mood today




Willie Nelson's "crazy" by Patsy Cline
originalmente postado aqui

terça-feira, 18 de novembro de 2008

estória de encantar

Jeremias é um amigo canadiano, cidadão do Mundo.
Artista multifacetado, passou largos anos em Portugal, onde construiu as suas casas como pequenos castelos. Por cá, dedicava-se ao teatro, à escultura e à pintura. Adora viagens e aventura e organizava descidas de rios em kayak. Há uns anos, propôs-se percorrer o reino de Prestes João e escrever a sua história. É por esse local mítico que Jeremias se encontra agora.

Antes da sua definitiva partida de Portugal, Jeremias veio despedir-se.
Quis apresentá-lo à minha filha, então com dois anos e meio.
Jeremias, tinha a barba e o cabelo longos e brancos. Com os seus olhos claros e face envelhecida, retratava na perfeição o Pai Natal, e apareceu nesse papel em alguns anúncios da TV.

-"Quem és tu?" perguntou-lhe a filhota.
-"Eu sou um amigo do teu pai", respondeu-lhe.
-"Olha, este senhor, é o Pai Natal" ajudei.
A minha filha, espantada, estremeceu.
Mas logo perguntou: "mas porque não estás vestido de Pai Natal?"
-"Porque ainda não é Natal", respondeu o Jeremias.

recriar

"Vejo bichos e caras em tudo o que me rodeia".
Esta frase, é de José Victor, meu amigo de juventude e meu cunhado.
Artista plástico, principalmente pintor e escultor, reinventou há pouco tempo o conceito do brinquedo efémero, tal como as crianças que fazem brinquedos com tudo: paus, embalagens, etc...
Em África, é normal uma criança pegar numa lata e transformá-la num carro com volante e tudo. Assim como uma menina pega num pedaço de madeira, coloca-lhe uns trapinhos, faz uma boneca, depois deita-a numa cama feita com pauzinhos e folhas de plantas...
Na Europa, esse espírito inventivo dos nossos filhos, perdeu-se.
Os nossos filhos, estão afogados em centenas de brinquedos para todos os fins, mas que nunca os satisfazem... Falta-lhes brincar com criatividade, criar realmente qualquer coisa que desperte o encantamento de ver algo nascer das suas mãos.
Para isso, José fez a "Oficina Recriativa", um atelier itinerante, que corre as mais diversas instituições de Portugal e da Europa. Este incentivo à criatividade infantil, foi particularmente apreciado na Alemanha.

Agora, os Médicos do Mundo propõem dois brinquedos feitos por José para essa instituição.
A ambulância, tem uma cara. Tem a expressão determinada da missão urgente, e tem a boca torta como se estivesse a emitir o som da sirene.
A enfermeira, tem a cara da senhora bondosa, o sorriso de quem trata os pacientes com gosto.

Ver mais em Médicos do Mundo.

my little champions

Miguel Arrobas da Silva, Joana Arantes, Nuno Miguel Cabrita, Vanda Pereira, Rita Melo, Cristina Vivas, Rui Correia, Alexandre Ferreira, Joaquim Ferreira, David Lopes, Cláudia Faustino, Marta Correia, André Vicente, Gustavo Reis, João Melo, Nuno Dias, Rita Duarte, Tânea Correia, Ana Menezes Azevedo, Andreia Neves, Alexandra Bandeira, Ricardo Silva, Patrícia Sousa, José Guilherme Couto, Raquel Lourenço, Jorge Santos, Fausto Cardoso, Daniel Sá Costa, Mariana Guimarães Silva, Alexandra Bugalho Moura, Francisco Antunes, Hugo Miguel Santos, Joana Ferreira, Tiago Alexandre Silva, Diogo Barbosa, Ana Rita Cavaleiro, Ana Rita Resendes, Ricardo Cardoso, Orlando Ferreira, Diana Reis.
Estes, são alguns nomes dos nadadores que eu treinei.
De todas as categorias que treinei, a que mais gostei foi a dos mais novos, dos "cadetes", como se chamava então.
Era muitíssimo compensadora, porque consistia de um trabalho de base, de ensino e de treino. Era diariamente visível o crescimento dos pequenos atletas, das suas progressões técnica, fisiológica e física.
E acima de tudo, era gente feliz e empenhada.


Alexandre Ferreira, Hugo Mendes, Joaquim Ferreira, David Lopes

sábado, 15 de novembro de 2008

órbita sideral

Há pessoas tão cretinas, que não fazem falta à humanidade.
Reunem as condições indispensáveis para uma missão vitalícia de exploração de minério em Marte, sem ter como escapar, isoladas das outras para não deixarem descendentes.



... Pick apart the past, you’re not going back . So don’t you waste your time ...
Hoping for the last ship to arrive . I’ve been blessed with a kingdom, half-mine ...

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

desaparecido?

Não... Mudanças na ciber-rotina, apenas...

Por ora, anda-se muito pelos clássicos e pelos reinos d'alma...

Ao som de Kaki King postada algures em meados de Julho, Bom FDS.





"doing the wrong thing"

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

(oh hell)


Emily Haines & The Soft Skeleton - "Our Hell"

originalmente postado algures em 04-04-2008, 22:11

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Obrigado, Met

"Não haveis convertido um homem porque o reduzistes ao silêncio".
JOHN MORLEY


originalmente postado aqui em 2008-10-22, 00:09

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

peixe podre

As pessoas, cada vez menos me surpreendem.

Apresentaram-me em tempos um espaço modesto, mas muito agradável.
Com espaço. Muito espaço. Parecia uma praia virgem e deserta, podíamos escolher onde ficar e com quem ficar.
Levei para lá todos e tudo o que queria.

Chamava-se "mazungue". Assim mesmo, sem acento.

Chamavam-lhe também rio, e eu coloquei lá alguns barcos. Vários. Uns para tomar um copo, outros para falar de carros, outros para falar de música e escutar música... E vários outros.

Como mestre das embarcações, pediam-me para tratar do bom ambiente. Porque estava ali um "que é bom é com janelas de alumínio", porque o outro "vem aos berros e com os copos", outro ainda fez "10 páginas só com revistas e nem encontro o que tu disseste"... E isto foi só o início. Do fim...

Agora, o mazungue morreu. Ganhou um acento não se percebe para quê. E já nada tem a ver com aquilo que o norteava.
E depois?

Depois, as pessoas, cada vez menos me surpreendem.

Tinha um 'grupo' no meu 'mail-list' só com aqueles 'amigos'.
Esse grupo, trocava links sobre coisas interessantes, fossem criadas por quem fosse.
Há já algum tempo que nada enviava a esse grupo.
Excepto agora. Para protestar.

O G-mail permite ler o início do correio. Então, tive até uma resposta que nem abri. Eliminei-a logo sem a ter lido. Cuspia assim: "E de que estavas à espera..."

Outros foram amigáveis:

"... Foi uma atitude injusta, estavas quase só no meio daquela peixeirada toda."

"Amigo, estou contigo..."

Não me surpreende a falta de acção das pessoas. As pessoas, estão e ajem realmente isoladas. Não são solidárias, não lutam por uma causa, pelos amigos... Já nada as faz mover da poltrona.

Isto não me surpreende.

Mas este manifesto enviado a muitos, surpreendeu-me:

"Meu caro amigo:
... É absolutamente fantástica e fantasiosa a resposta que te deram. Isto depois de nos teres levado a TODOS para o mázungue. Eu lembro-me perfeitamente que quando entrei, aquilo pouco era mais do que um ponto de encontro de meia dúzia de pessoas,...
Quando começámos a intervir com regularidade, fizémos um pedido para termos uma tertúlia sobre os automóveis. ... Tamos à espera de quê para começar?
Grosso modo, era esta a minha intervenção.
Se não fosse o teu pedido, no mázungue nada existia sobre o desporto automóvel em Angola. Ou falava-se "ao de leve". Será exagerado falar assim? Não! É a verdade! Está lá escarrapachado. A não ser que apaguem!
Depois de muita coisa escrita, de muita brincadeira e de muita estória contada, veio uma das melhores ideias para dinamizar aquele que já era o espaço mais visitado do mázungue. Em boa hora, o Turza se lembrou do piloto da semana. Mas quem teve o trabalho TODO foi o tal "menino que faz birras", o menino que "precisa ir de férias", o menino que deu cabo de tudo... Foi assim que foste retratado, como uma criançola. Coitados, não conseguem ver o óbvio...
... Vamos para sítios menos poluídos, onde deixem os meninos como eu e tu brincarem. E depois cá estaremos para ver os crescidos: envenenam, publicam mails que não lhes são destinados, reencaminham outros e ainda têm o topete de virem dar sinais de pacificação. E mentem. Mas os meninos olham para as coisas que os crescidos fazem com outros olhos. ...
...Não posso já com o cheiro a peixe podre...
Caga nisso e continua a ser quem és. Eu, com esta idade já faço assim: quem gostar, gosta. Quem não gostar que se foda (assim mesmo, em vernáculo)."

sonho em 3D

às vezes vejo televisão...


Alex Weil ONE RAT SHORT

domingo, 19 de outubro de 2008

terça-feira, 14 de outubro de 2008

vou chamar os anjos...

...por aqui a inspiração e as fontes andas escassas...



originalmente postado aqui

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

RAIVA

Não gosto de deitar fora jornais e revistas, sem pelo menos "passar os olhos" por eles.
Por isso os deposito perto do "trono" no qual cago para tudo, para todos os efeitos.
Mais facilmente deito fora um livro qualquer, que comprei à força e sem interesse, enquanto "sócio" do Círculo de Leitores...

E ainda bem que não deitei fora aqueles jornais e revistas, porque teria perdido esta pérola:

«Não gosto de dizer mal de Portugal — será snobismo, mas a secular banalidade desse passatempo irrita-me a cútis. Ainda gosto menos de ouvir dizer mal de Portugal, e nisso sou tão vulgar como uma varina. Foi por isso com intensa vergonha que há três anos, por esta altura, assisti, com um grupo de ingleses, a uma reportagem da BBC onde se demonstrava que Portugal é um país tão pobre que, quando chove, as pontes caem e as pessoas morrem.
Agora, a decisão tomada pelo juiz de instrução Nuno Melo de arquivar o processo de apuramento de responsabilidades na queda da ponte de Entre-os-Rios vem provar que, ao contrário do que tentei explicar aos meus amigos ingleses — que Portugal não correspondia àquela imagem trágica, que aquele acidente era a excepção, funesta mas irrepetível —, tudo isto existe, e tudo isto é mais triste do que o mais velho fado.
«Causas naturais», reza a decisão, como se fosse natural a queda de uma ponte na qual quinze anos antes — quinze anos, senhores! — se detectara uma perigosa erosão. Em vão o povo da terra clamou por uma ponte nova ...
... Afinal, como depois da tragédia se viu na televisão, não era só uma ponte — eram dez, quinze, vinte, inúmeras pontes velhinhas que, por todo o país, estremeciam, até à hora utópica em que valores mais altos não se levantassem.
Se a culpa é afinal da chuva, pergunto qual é a solução: irmos todos a Fátima rezar para que não chova?

Recordemos: o autocarro levava uma colecção de famílias humildes, com muitas crianças e bebés, que haviam partido em busca das amendoeiras em flor do início da Primavera.
Raiva, é o nome de uma das povoações mais desfalcadas pelo inesperado mergulho do autocarro e de três automóveis, causando 59 mortos.
Raiva.
Se fosse ficção, acusar-nos-iam de pecar por redundância.
Mas Portugal é um país redundante — sempre foi essa a sua maior glória, é essa também a causa da sua imobilidade profunda.
Remoemos paixões e iras, lamuriamo-nos e deixamo-nos embalar pela música das nossas próprias lamúrias.
...
Enquanto o povo de Raiva aguardava, em silêncio, nas margens do rio negro, subitamente repletas de ministros e candidatos a ministro, que os corpos mortos dos que mais amavam saíssem da mortalha da água para o cemitério da terra (última esperança, e também essa em muitos casos frustrada), as chuvas arrasaram mais duas pontes — uma perto de Famalicâo, outra de Santo Tirso - embora, por sorte, mais ninguém tivesse morrido.
Os jornais contavam que havia 19 técnicos para inspeccionar as 3.500 pontes do país e sobretudo que, desde a extinção da Junta Autónoma de Estradas, a responsabilidade das pontes andava diluída numa maré de institutos sem competências definidas. Enquanto papéis e queixas boiavam sobre as mesas das repartições, a ponte cedeu, as pessoas morreram.
Amália cantava: «Povo que lavas no rio/ e talhas com teu machado/ as tábuas do teu caixão».
Amália também já morreu, mas o seu fado continua a assombrar-nos.
Trinta anos depois da descoberta da liberdade, vivemos ainda na cinza de um Portugal adiado pelo hábito da ditadura, mãe de toda a desresponsabilizaçâo. »

"Os mortos abandonados" em CRÓNICA FEMININA por INÊS PEDROSA, revista ÚNICA do EXPRESSO, escrito na 3ª fª anterior a 3 de Abril de 2004.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

segunda-feira, 29 de setembro de 2008


originalmente postado algures...

terça-feira, 23 de setembro de 2008

terça-feira, 16 de setembro de 2008

sound winning

originalmente postado aqui ; mais aqui

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

na ponta da língua, África

Nestas 3 semanas, despiste a pele do lobo na ponta final que felizmente manténs com o indicativo percutido takadin.

Nestas semanas, recordaste-nos uma pontinha das tuas raízes africanas através das tuas homenagens a toda a África e sobretudo, ao magnífico Andy Palacio e ao Belize's Garífuna Women's Project.

Nestas semanas, disseste: eu também sou da banda, sim.

Um abraço, António.



spacemusic: AndyPalacio ; UmalaliProject


Tinariwen - Cler Achel (from Live DVD)


tinariwen spacemusic
variação deste e deste post

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

9/11 TV off


Hoje, não vejo televisão.

Já fiz o meu luto pelas vítimas e pelo WTC "n" vezes.
Chega.
Não quero mais.
Repugna-me essa constante memória e o "um-por-um" dos nomes relembrados.

Hoje, vou lembrar outro Setembro.

Na bebedeira colectiva e revolucionária que se seguiu ao 25 de Abril, ninguém parecia ter consciência da gravidade da situação angolana.

O poder tardava em organizar-se e as Forças Armadas voltavam as costas às colónias, razão primeira do acto revolucionário.

Em Angola, as forças de segurança e o controlos fronteiriços terrestre e marítimo "adormeceram".

Tal como ainda hoje, os manipuladores do mundo, trataram de intervir e armaram terrivelmente as forças no terreno. Uns contra o perigo comunista, outros contra o perigo imperialista. Os vizinhos Zaire e África do Sul, seguiram o exemplo.

As Forças Armadas portuguesas em Angola, apenas aguardavam a hora de abandonar o território.

Na tentativa desesperada de abandonar um lugar em guerra, os civis organizaram colunas de fuga por terra, para locais próximos mais seguros, mesmo dentro de Angola, como por exemplo para Lubango (Sá da Bandeira), Namibe (Moçâmedes) ou Luanda, mas também para o exterior, sobretudo para a África do Sul.

Essas colunas foram prontamente proibidas pelas autoridades, atitude assassina para muita gente. Pergunto eu, como se pode permitir tal a uma autoridade inoperante...

Finalmente, quando a calamidade humanitária era escandalosa, sem outra saída e num último esforço de salvar a face, foram permitidas e apoiadas as colunas.



Conheci nestas férias Carlos Monteiro, angolano, que há 31 anos era furriel do Exército português.

Contou-me a história que vos apresento, uma entre milhares, mas que retrata a situação vivida em Angola no limiar da Independência.

5.000 carros e 20.000 pessoas, números por baixo, uma coluna com mais de 100 km , 8 a 12 dias de viagem escoltada.

São estes os números da que parece ter sido a única coluna organizada e escoltada, saída de Nova Lisboa, Huambo. Constituída principalmente por habitantes locais, mas também por muitos oriundos de povoações menos seguras, que lá se haviam concentrado.

A data, 22 de Agosto de 1975.

O destino, Catuíto. No Sudoeste Africano, actual Namíbia.

À espera, uma força militar Sul-Africana, que levaria a coluna para um campo de refugiados próximo, e posteriormente para a África do Sul.

Sabia-se da preparação de uma ofensiva sem precedentes na cidade, entre o MPLA e a UNITA, esta a dominar o Huambo.
A escolta foi preparada entre o exército português e a FNLA que abriu a coluna, chefiada por Daniel Chipenda, dissidente do MPLA...

Organizou-se a logística e preparou-se tudo para as negociações que se adivinhavam, nos controlos e barramentos de estrada protagonizados pelos 3 movimentos, alguns de 20 em 20 km.
Durante a viagem, elementos do exército percorriam toda a coluna da frente para trás, para assegurar a assistência e a segurança aos viajantes.

A passagem por Menongue (Serpa Pinto) era fundamental para reabastecimento e reagrupamento.
Haviam confrontos militares na pequena cidade, e foi necessário "tomar" o local e negociar a saída das forças beligerantes. Em 24 horas, tornaram-se operacionais os serviços básicos, entre os quais uma padaria e uma farmácia que tinha sido assaltada, com os medicamentos espalhados por todo o lado, o que tornou necessária uma demorada arrumação.

8 dias após o início da viagem, chegaram ao Catuíto os primeiros veículos da coluna.

A travessia mais problemática, foram algumas dezenas de quilómetros de deserto, já perto da fronteira Sul de Angola. Foi necessário rebocar um por um, todos os veículos sem tracção total, com a intervenção dos todo-o-terreno militares e civis disponíveis.

Os últimos elementos da coluna, chegaram 12 dias após o início da viagem.

Entretanto, foram passando em sentido inverso, centenas de camiões Sul-Africanos carregados de armamento...

Terminada a operação, os militares portugueses entregaram todos os seus veículos e todas as suas armas ao exército Sul-Africano no local.

Alguns desses militares, voltaram como civis para o Huambo, em veículos que propositadamente acompanharam a coluna para assegurar o regresso.

Cerca de 20 dias depois de ter saído do Huambo, Carlos Monteiro viu aquilo que nunca imaginou quando voltasse.

A cidade estava morta e completamente destruída.
Nas ruas, o cheiro era insuportável.
Corpos de gente morta por todo o lado. Milhares. De 2 em 2 metros, um corpo. Civis quase todos. Muitas crianças também.

Carlos Monteiro reuniu os poucos haveres que conseguiu, e foi à aventura com alguns companheiros repetir a viagem para Catuíto. Desta vez, não teve ajuda de ninguém.

Huambo, tem agora, apesar de tudo, 1 milhão de habitantes.

As marcas dessa guerra mantêm-se ainda hoje, por toda a parte.


Já fiz o meu luto de 1974 a 1976, pelos mártires do colonialismo, e por todos aqueles que foram dominados à força.

Entretanto, permitia-se a matança indiscriminada em nome da independência e da liberdade...


imagem daqui

Há dias, estive com alguns angolanos que vieram pela 1ª vez a Portugal.
Eles, já fizeram o seu luto, também.
Sofreram como ninguém imagina.
Estiveram presos muitos anos por possuírem 200/300 US dolares, ou outra espécie de bens. Todos os pertences das suas famílias foram "confiscados" em nome não se sabe de quê. Alguns foram torturados, outros mortos.
Também eles, já fizeram o seu luto.
E não querem saber mais do passado.
E gostam MUITO dos portugueses. Fizeram as pazes.

Hoje, vou lembrar outro Setembro.
O de 1975.
Ignorado, completamente.
Muitos milhares de inocentes. 15 mil? Ninguém sabe. Nem os nomes.
Eram portugueses e angolanos.
Foi no Huambo.
Eu, só eu, vou fazer esse luto.

Porque não sabia, e ainda não o fiz.
originalmente postado algures em 2006/09/10

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Rock and roll can never die



"Rock and roll can never die" de "Hey Hey, My My" de Neil Young, encaixa-se na perfeição para definir "os Gully".

Mas há cerca de dois anos, seria mais apropriado o mote "Punk's not dead".

"Os Gully", foram crescendo e adaptando as suas sonoridades de acordo com as tendências dos seus membros.

Se no início construíram as suas canções sob uma estética pop e punk, mais tarde adaptaram essas mesmas canções ao hard rock.



Duarte, é o músico da banda que mantém o elo entre compositores e todos os músicos que vão passando pela banda.
Músico de formação clássica, toca todos os instrumentos, mas mantém nos Gully a sua paixão de tenra idade, a bateria.

Os restantes músicos da banda actual, são tecnicamente excelentes.
O vocalista, tem uma qualidade vocal que classificaria de impossível nos genes portugueses. Esquecendo alguns desvios à Axl Rose, faz lembrar nitidamente Ian Gillan, pelas capacidades e pelo timbre.

O EP que "os Gully" lançaram, é a primeira obra de carácter editorial da banda, apesar de ser uma edição de autor.
Outras houve, mas foram edições mais restritas.
Este EP que pode ser ouvido integralmente no GullySpace, é uma escolha ao gosto dos músicos dos Gully, pelo que representam como exercícios.
São óptimas canções de Hard Rock e de Rock'n'Roll.
Outras há comercialmente mais apetecíveis. Serão editadas em LP.

Os Gully, são uma banda de palco. Excelentes executantes, têm um público que se rende às suas performances, dançando e aplaudindo-os efusivamente. Aliás o público, define-se como fan dos Xutos.
Afinal, que melhor apreciação pode ser feita aos Gully que não a de um público que se mantém desde há 30 anos fiel à melhor banda de rock em Portugal?
O resto, são críticas de mau entendedor, de quem não gosta da música e está limitado a um estilo...

Cheers, Gully!

Outra boa apreciação, aqui.
Originalmente postado aqui, mesmo.

a felicidade

em Março de 2005 (suponho):

"Não tenho filhos e tremo só de pensar. Os exemplos que vejo em volta não aconselham temeridades. Hordas de amigos constituem as respectivas proles e,apesar da benesse, não levam vidas descansadas. Pelo contrário: estão invariavelmente mergulhados numa angústia e numa ansiedade de contornos particularmente patológicos.
Percebo porquê....
Há cem ou duzentos anos, a vida dependia do berço, da posição social e da fortuna familiar. Hoje, não.
A criança nasce, não numa família mas numa pista de atletismo, com as barreiras da praxe: jardim-escola aos três, natação aos quatro, lições de piano aos cinco, escola aos seis, e um exército de professores, explicadores, educadores e psicólogos, como se a criança fosse um potro de competição.
Eis a ideologia criminosa que se instalou definitivamente nas sociedades modernas: a vida não é para ser vivida - mas construída com sucessos pessoais e profissionais, uns atrás dos outros, em progressão geométrica para o infinito. É preciso o emprego de sonho, a casa de sonho, o maridinho de sonho, os amigos de sonho, as férias de sonho, os restaurantes de sonho.
Não admira que, até 2020, um terço da população mundial esteja a mamar forte no Prozac.
É a velha história da cenoura e do burro: quanto mais temos, mais queremos. Quanto mais queremos, mais desesperamos. A meritocracia gera uma insatisfação insaciável que acabará por arrasar o mais leve traço de humanidade. O que não deixa de ser uma lástima.
Se as pessoas voltassem a ler os clássicos, sobretudo Montaigne, saberiam que o fim último da vida não é a excelência, mas sim a felicidade!"

Não poderia estar mais de acordo.
Neste post, penso exactamente assim.

another day


original: Roy Harper
originalmente postado aqui

domingo, 7 de setembro de 2008

época romântica da aviação



Neste post : Sempre gostei de aviões e do ambiente dos aeroportos.
Em Luanda, faziam-se serões na esplanada do aeroporto.
Aquele espaço e aquele ambiente eram muito agradáveis e elegantes.
Até o movimento próprio do aeroporto, dos passageiros, das mercadorias, das chegadas e das partidas espaçadas e ordenadas dos aviões era elegante.
Sei agora, que esse ambiente corresponde na linguagem dos apreciadores das viagens de avião, à "época romântica da aviação".


A "época romântica da aviação", corresponde ao período do pós 2ª Grande Guerra.
Tratou-se da expansão da aviação comercial a todo o mundo, associada a estéticas "modernista" e "internacional" de extremo bom gosto.



Essa época, é a primeira alternativa nas viagens intercontinentais, dominadas até então pelas companhias de navegação marítima.
Destinava-se à elite, não pelos custos impostos, mas necessários.
Começou com aparelhos a hélice, turbo-hélice e vingou finalmente com os grandes aviões a jacto: Boeing 707 e DC8 (os maiores desse tempo, com capacidade para cerca de 100 passageiros).



Haviam as companhias "de bandeira", orgulho de todos os seus países.
Os aeroportos eram arquitectados como verdadeiras portas de entrada e salas de visitas.



Dessa época, guardo algumas recordações, como pequenos utensílios de refeição de bordo, carteiras de toalhetes, postais...

O sucesso da aviação comercial foi tal, que terminou com as companhias de transporte de passageiros por mar.
Mas também terminou com essa época dourada da aviação.
Hoje, os aeroportos e os aviões são todos iguais e incaracterísticos. São antiterrorismo, assépticos, claustrofóbicos e desumanos.
Os aeroportos parecem hipermercados... E os aviões de uma cor só e com grandes letras, parecem os carrinhos desses hipermercados...

originalmente postado aqui, mesmo

stsohg

... she can't carry on, but her nimble fingers still feel the cold ...


originalmente postado aqui

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

:-) Bom Dia ! Boa Semana !








Catatonia "Dead from the waist down"

originalmente postado aqui


the sun is shining
we should be making hay
but we're dead from the waist down
like in california
victory is empty there are lessons in defeat
but we're dead from the waist down
we are sleeping on our feet

we stole the songs from the birds in trees
bought us time on easy street
now our paths,they never meet
we chose to court and flatter greed, ego disposability
i caught a glimpse, and it`s not me
make hay not war ... (3x)
or else we're done for
and we're dead from the waist down

there's no contracts binding
no bad scene beyone repair
but when you're dead from the waist down
you're too far gone to even care
...
the sun is shining

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Avenida David Bowie

Era uma noite de Verão e estava em Lisboa. Tinha ouvido anunciar para pouco depois, a ópera de uma banda de rock com performances circenses, no recém-inaugurado "Lisbon Galactical Forum", na zona Oriental da cidade.
Estudei o mapa da Carris. Decidi apanhar o autocarro para Chelas. Passaram autocarros silenciosos, movidos a electricidade por hidrogénio. Chegou finalmente um para Chelas. Era um MAN antigo a gasóleo, dos anos 1980. Tinha para aí 60 anos e chocalhava por todos os lados. Pelo aspecto dos passageiros, percebi que estava numa viagem de risco. Mas a presença a bordo de 4 agentes da polícia, descansou-me. Pergunto ao agente que estava mais perto de mim, onde era a Avenida David Bowie. Respondeu-me que essa avenida tem 30Km... Perguntei-lhe então se me poderia avisar quando nessa avenida passássemos pelo Galactical Forum. Respondeu-me que sim e eu agradeci.

Atravessávamos amplas avenidas esplendidamente iluminadas, ladeadas por modernos edifícios. Num cruzamento, parámos. Havia confusão. Encostado a uma janela do lado direito, vi uma mota e um carro parados, possivelmente por um acidente. Perto, um carro da polícia e dois agentes, barravam a passagem do trânsito. Um homem com jeans e T-shirt sujos e um casal com roupa de cabedal de motociclistas, discutiam. Ela tinha uma saia muito curta com collants vermelhos que se avistavam até aos quadris. Tinha o blusão aberto e nada mais lhe cobria o tronco. O outro motociclista, também tinha blusão aberto mas tinha uma T-shirt. Estava todo sujo de lama e estava ferido, pelo menos na face. Os dois homens discutiam agressivamente, enquanto a mulher gritava ofensas para o ar.
Nisto, o motociclista sacou de uma pistola que tinha nas costas. Enquanto a aponta ao outro homem, os agentes na rua correram para trás dele e apontaram-lhe as suas armas à cabeça.
No autocarro onde eu estava, os 4 agentes e mais um à paisana com boné de baseball e aspecto chunga, accionaram o comando de abertura manual da porta de saída e num ápice se colocaram atrás dos outros agentes, apontando também as suas armas à cabeça do motociclista. Este, sentindo-se dominado, atirou a arma ao chão e foi algemado. O outro, acendeu um cigarro. O da mota, continuou a discutir, mostrando um buraco chamuscado na T-shirt. Dizia-lhe: "put on the light here!" O outro, tirou uma lanterna do bolso e apontou a luz. "Do you see this burned hole? It was your bullet".
O outro afastou-se em direcção a mim, com a ponta do cigarro na mão. Ergueu o braço junto à minha janela, e por entre alguma fenda, lançou sobre mim a beata acesa.
Surpreendido com aquele acto e assustado com a perspectiva de ser queimado, dei um salto.

O autocarro seguiu viagem e só então reparei que todo aquele painel onde eu estive encostado, estava completamente solto em cima.
Perguntei ao agente se faltava muito para o meu destino. Respondeu que já tínhamos passado... Aborrecido e conformado, tento perceber onde estava. Íamos muito depressa, com aquele lado do autocarro a ameaçar ficar na estrada a cada curva para a esquerda.
É então que entrámos numa espécie de casbah. Todo pré-fabricado, com estruturas em alumínio e painéis sintéticos, todo branco e cheio de luz.
O espaço era totalmente coberto e o autocarro seguia com prudência entre pessoas que circulavam calmamente.
Por entre as lojas do casbah, havia roulottes também imaculadamente brancas e todas iguais.
Naquele espaço todos eram estrangeiros: russos, ucranianos, ingleses, alemães, marroquinos, cabo-verdianos... Não se ouvia uma palavra em português.
É então que vejo uma angolana a apregoar banana assada. Decidi sair ali.

Acordei e fiz um café com leite. Contei este sonho à minha filha e ela pediu-me para o postar.
originalmente postado aqui, mesmo

gritos mudos

26 de Agosto, 16h45', A5, descida Carnaxide-Jamor: trânsito intenso, compacto mas fluido, rolando a 90-100Km/h nas 3 faixas.

Estou nas calmas, mudo para a faixa da direita.
De repente, tudo trava. À minha frente, tudo o que vejo é uma descida em curva para a esquerda, com mais de 30 carros em paragem. Onde estou, não se percebe o que se passa para além dos 150m que vejo. Atrás de mim, ouço travagens. Ao meu lado e à frente, vejo mudanças de direcção aflitas.
Pouco depois, ao meu lado, retomam o ritmo normal. Mudar de faixa é complicado, porque já se roda a 100 em comboio compacto ao meu lado, mas continuo a 40... Finalmente consigo uma aberta e mudo rapidamente.
À frente da fila onde estava, segue um Lancia Y azul-violeta. Não vai a mais de 40km/h.
Enquanto avanço, tento perceber a razão daquele perigoso comportamento, mas nenhum sinal de avaria.
Num ápice, fito quem conduz. Não há sinais de tensão ou temor. Um rosto feminino alvo de porcelana, cabelo platinado pelo pescoço e com franja. Não é jovem, mas é bela. Tem a expressão mais ausente deste mundo...

Pergunto-me porquê a beleza não é poupada à desgraça, como às obras de arte condignamente expostas...


Heidi Mount

"Gritos mudos chamando a atenção para a vida que se joga sem nenhuma razão"
(xutos)
originalmente postado aqui, mesmo

sábado, 23 de agosto de 2008

eclipse



There was a lunar eclipse last week.
The sundown was 2 hours before. The shadow of our hands wouldn't appear on the moon.
And we couldn't do the loving hands dance.
Remember our hands dancing in the air? Tenderly drawing love?




variação deste post

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Jane says

originalmente postado aqui

terça-feira, 5 de agosto de 2008

reflexão em tempo de férias




lyrics

Revejo-me completamente em alguns (mto poucos) cineastas.
Wim Wenders é um deles.

Universal, adoptou Berlim, Los Angeles, Lisboa, como alguns dos seus espaços.
Lisboa de "O Estado das Coisas" e de "Lisbon Story (Sob os céus de Lisboa)".
Lisboa da saudade, do desejo do sonho...
Do ponto do impasse sem retorno nem resposta.
Apenas da partida adiada.
Como um incógnito universal que olha do castelo a foz de Tejo como a saída para o desconhecido. Tão perto, mas tão longe...

variação deste post

sexta-feira, 25 de julho de 2008

quinta-feira, 24 de julho de 2008

feel that someone pray



originalmente postado aqui

Serão os toureiros bichas?

Uma coisa que vi e não gostei quando cheguei a Portugal em 1974, foram touradas.
Desde esse 1º momento, sempre me irritaram as touradas.
E sempre achei aquelas danças e aqueles gestos à volta daqueles bichos tão machos, uma coisa abichanada.
Acho que na origem, quem toureava eram gajas...
Depois, devem ter aparecido uns ciumentos para tirar-lhes o lugar...
Gajas a tourear é mto + bonito!
E é muito mais digno para um macho com a majestade dum touro, ser fintado e alfinetado por uma gaja!

Serão os gajos que vão às touradas, bichas?
originalmente escrito algures...

o fim do romantismo dos aeroportos



Em 1974, não sabíamos o que fazer.
Estávamos em Angola há 11 anos e há 7 que não voltávamos a Portugal.

No alto dos meus 13 anos, não imaginava viver fora de Luanda, cidade que todos amávamos profundamente.
Porém os traços incandescentes das primeiras trocas de fogo sobre o Norte de Luanda, levou-nos a ir para Lisboa à experiência...
Comprámos bilhetes para poucos dias depois, com algum favor.
As viagens de avião sempre tinham sido agradáveis para mim, até então...
Mas a TAP sobrecarregada de trabalho, fretou alguns serviços a outras companhias mais ou menos conhecidas.
Calhou-nos uma desconhecida, a BWA "Bahamas World Airways", com um Boeing 707 velho, mais curto que o normal e com menor autonomia.
Soube depois, que esta companhia estava em processo de liquidação e que deixou de existir poucas semanas mais tarde.
As cadeiras eram desconfortáveis e o pessoal de bordo ineficaz.
Fizemos escala no Sal, Cabo Verde, para reabastecer o avião.
A viagem foi longa e cansativa. À chegada a Lisboa, estivemos quase uma hora à espera de ordem para aterrar.
Foi um sofrimento interminável, com os poços de ar constantes e ventos habituais em pleno Verão sobre Lisboa.

Sempre gostei de aviões e do ambiente dos aeroportos.
Em Luanda, faziam-se serões na esplanada do aeroporto.
Aquele espaço e aquele ambiente eram muito agradáveis e elegantes.
Até o movimento próprio do aeroporto, dos passageiros, das mercadorias, das chegadas e das partidas espaçadas e ordenadas dos aviões era elegante.
Sei agora, que esse ambiente corresponde na linguagem dos apreciadores das viagens de avião, à "época romântica da aviação".

Pois à chegada ao aeroporto de Lisboa, e depois daquela exasperante experiência até aterrar, entrámos no que parecia o caos do movimento e do ruído.
Depois, ficámos em casa de uns tios em Sacavém por umas semanas, até decidirmos o que fazer.
Não sabíamos se íamos ficar 1 mês ou 1 ano.
Durante essas talvez duas semanas, aquele ruído dos aviões que eu achava encantador, tornou-se insuportável pela proximidade da casa onde estávamos, do aeroporto.
É preciso lembrar que naquela altura, os aviões propagavam o seu ruído, sem exagero, 10 vezes mais do que agora. Hoje, naquele local de Sacavém, quase não se ouve 1 avião...

Em 1975, concluímos que não estávamos no nosso mundo e decidimos regressar a Luanda. Chegámos na noite de 2ª para 3ª fª de Carnaval. Tinha começado a luta sangrenta entre o MPLA e a FNLA, o recolher obrigatório, a falta de alimentos e de bens essenciais...
originalmente postado aqui, mesmo

terça-feira, 15 de julho de 2008

Bom Dia :-)


Antoine Dufour "Catching The Light"
originalmente postado aqui

de férias passadas

Cerca de 1985, Costa Vicentina, Alentejo.
Caminhámos pela praia talvez 15Km, de Porto Covo a Milfontes. Com alguns intervalos para mergulhar num mar aberto, algo bravo e puro. Durante todo o percurso, quase não se via viv'alma. Apenas alguns grupos de campistas que mais pareciam índios, com pinturas à base de carvão nas caras e nos corpos, e "tendas" de canas e farrapos. Parecia uma cena MadMax pós apocalipse...

Milfontes era (ainda deve ser) um lugar sem povoamento. Escarpas sem praia e falésias, junto ao mar. Tem um pequeno porto de pesca algo abandonado e nada mais.
A característica da zona que lhe deu nome, vem das cascatas que saem dessas escarpas. São resultado de charcos e lençóis de água "quebrados" nessas escarpas, que proporcionam belíssimos duches e viveiros de agriões.

Perto da Zambujeira do Mar, combinámos jantar "a melhor caldeirada do Alentejo", o que significa a melhor caldeirada do Mundo.
No meio de nada, por caminhos tortuosos e já a escurecer, demos a um enorme barracão com um barulhento gerador eléctrico a Diesel a dar as Boas Vindas.
O sítio era magnífico, sobre uma altíssima escarpa junto ao Atlântico.
Ali perto, o único sinal de presença humana, era uma pequena enseada com pequenas embarcações de pesca em abrigo.
Veio então a Caldeirada de peixe, que era uma coisa divinal.
Éramos 6 portugueses e 6 alemães. Nós, os tugas, estávamos a meio do festim, quando notámos que os alemães não comiam...
Os pobres olhavam enojados para os pratos, com repulsa pelo aspecto do tamboril e do cação, estragavam o resto dos "bichos" que tinham um ar mais "Europeu"...
E justificaram então, que na Alemanha só compram peixe arranjado e que nunca viram nem comeram peixe por arranjar no prato...
Com as melhores das intenções, e porque ali não havia alternativa (ou peixe, ou nada) tentávamos mostrar como se usavam os talheres e como se come o peixe. Germans learning to eat with the portugiesischen? Nein. No way! Alemães a desmanchar um bicho no prato? Que coisa primitiva para gente civilizada e desenvolvida...
O "R tuga" que é enorme, levanta-se e dirige-se furioso aos alemães: Are you seeing people in that table? They're Italians and they make cars and computers. And they're eating CAHLDEIRAHDAH.
originalmente postado algures em 2008-02-20

sábado, 12 de julho de 2008

Bernard Cahier

A História do Automobilismo jamais seria a mesma sem Cahier.
Com a sua simpatia e com o seu carácter peculiares, fez muitos amigos em todo o Mundo, inclusivé em Portugal e em Angola.

Fotografava como ninguém e transportava para as imagens que gravou, um romantismo e uma paixão invulgares pelo automobilismo e pelas pessoas nele envolvidas. Porque eram os seus amigos que ele fotografava.

No mundo do automobilismo, ninguém ficou indiferente à sua partida. É o exemplo de GrandPrix.com .

originalmente postado aqui

from lost musics sessions


originalmente postado aqui

terça-feira, 8 de julho de 2008

Mark Lanegan

the Gutter Twins "All Misery / Flowers" (Saturnalia)
originalmente postado aqui

sinais de um tempo breve




originalmente postado já não sei onde...

segunda-feira, 7 de julho de 2008

... dizer OLÁ!... :-)

... ou Boa Noite, ou Bom Dia... Sempre assim. Para quem gosto:



Andy McKee 'Nakagawa san'
variação deste post

terça-feira, 1 de julho de 2008

To Survive

Ouvir Joan Wasser é uma delícia. Eis "To America".

Ouço Joan As Police Woman constantemente.

É uma "cantautora" recentemente divulgada.
Daí existir pouco material para mostrar num post.
Mas o que existe é já tão bom, que não espero mais.

"To Survive" ao vivo, num clip sofrível. Vale pela música e pela letra*:



Ainda "To Survive" (som estúdio).

Para ver mais na BBC6music: o clip "Holiday". Mais abaixo nessa pag, os links do site oficial da artista e do "spacemusic". A explorar na totalidade.

*E a ajuda duma Flor: "gosto mto dela.
"to survive" e lindo e sofrido ja que ela escreveu enquanto a mae lutava contra o cancro ( e "honour wishes" tb)"

variação deste post

domingo, 29 de junho de 2008

Os urbanos



Urbanos, é uma expressão de um amigo azeitonense de longa data.

Chama "urbanos" às "pessoas da cidade" que vão para Azeitão ao Fim-De-Semana.
Porque os há que para lá vão como se fossem para uma festa, enterrando os sapatinhos da cidade na lama do campo, etiquetou-nos a todos dessa maneira: "estes urbanos que não percebem nada do campo".
Uma vez, há cerca de 25 anos, convidei alguns amigos a atravessar na 6ª fª Santa a Serra da Arrábida, uma tradição ancestral da região. Para meu próprio espanto, uma das minhas amigas ia de saltos altos e vestida como se fosse para a discoteca.
Outra vez, para a apanha da azeitona, apareceu uma também de saltos altos e casaco de peles.
Quando venho para Lisboa e me despeço desse amigo, vem sempre com esta: "então, porque não dormes cá e vais amanhã? Estes urbanos estão sempre com pressa"...
E "os urbanos" são os culpados do trânsito que ele abomina, mais a falta de lugares para parquear o carro, mais os parquímetros que estão sempre a pedir mais moedas: "põem estas máquinas a falar com a gente a pedir mais dinheiro... Estes urbanos agora têm máquinas para falar..." E desata a colocar moedas que dão até à manhã do dia seguinte...
E diz quanto a alguns jeans: "estes urbanos vão às lojas comprar roupas caras já gastas..."

brasucas fatelas

Não percebo a mania dos brasileiros estarem sempre a falar.
Falam a toda a hora sobre tudo e coisa nenhuma.
Parecem papagaios. E acredito firmemente, que tal como os papagaios, eles falam sem dar por isso e nem se apercebem do que dizem. Falam por uma necessidade incompreensível. Sejam dentistas, cabeleireiros, operários de armazéns, sejam o que forem. Falam pelos cotovelos.
"Ganhei" uns vizinhos brasileiros no prédio ao lado. Também eles falam que se fartam. A mulher, então, parece uma buzina. Não fala: guincha.
Ontem, tiveram visitas de outros brasileiros que chegaram a casa ao mesmo tempo que eu. E falavam alto a torto e a direito, como se estivessem a trautear um samba qualquer.
Não percebo como os brasileiros são assim. As gentes que lhes deu origem, foram sobretudo angolanos, portugueses e os nativos "índios". Destes, nenhum povo "palra" tanto como eles. Os "índios" então, são quase mudos. Claro que para o Brasil, também foram italianos e outros. Mas mesmo assim... Acho que foram contagiados pelas araras, só pode...
Então um dos visitantes, ao ver o anfitrião a pegar na chave para abrir a porta do prédio, exclama: "Você ainda usa a chave? Aqui não tem código não? Tem uns prédios com código aqui para abrir a porta! Abrem a porta com um codigozinho, viu? Não tem código, não?"
IRRA, exclamei para dentro! E aquela voz irritante, de vez em quando ecoava dentro de mim, qual música pimba: "Não tem código, não?" E continuava: "você tem de ter código, viu?" Até à histeria: VOCÊ TEIN DI TERRRR CÓDIGO, TEIN DI TERRR CÓDIGO, VIU?

Margem Sul



Eu gosto da "margem Sul".

Serra da Arrábida, Azeitão e Sesimbra, são lugares onde tenho raízes e laços familiares.
Quase todas as semanas, desfruto do prazer do contacto com a natureza na Serra da Arrábida.
E recordo com um sorriso, as férias que passava numa casa que os meus pais alugavam na Fonte da Telha, quando era muito pequeno.

Até há cerca de 25 anos, era comum chamar "Outra Banda" à margem Sul do Tejo da "grande Lisboa". Agora, só se usa "margem Sul".

Margem Sul, passou a ter para mim outro significado.
Não aquele que que me liga ao local, nem aquele que me dá prazer.

Há cerca de 5 anos, tive uma saída litigiosa da empresa onde trabalhava. O caso foi a tribunal e ganhei.
Quando existe uma luta judicial difícil para uma das partes, pega-se em tudo e mais alguma coisa para prejudicar a outra.
Ficou-me então gravada para sempre, a expressão de uma das testemunhas: "eu nunca cheguei atrasada e moro na margem Sul"! Isto porque eu, tinha dias em que demorava duas (sim, 2) horas para chegar a Lisboa pela A5.
Constatei assim, que "Margem Sul" não é um lugar. É uma condição e um desígnio.
"Margem Sul", é um indivíduo que se sente marginalizado por viver ali. Mesmo que disponha de duas pontes, de duas Auto-Estradas e do melhor comboio suburbano do país, é da "Margem Sul". Logo, é eternamente um marginalizado.
Porque em tempos, foram operários e filhos desses operários mal qualificados, que trabalhavam duramente para ganhar muito pouco.
Hoje, tudo mudou, mas manteve-se o culto por esse estigma.
Os "Margem Sul" alargaram-se para outros subúrbios de Lisboa. Também andam pelas linhas de Sintra e da Azambuja. E comportam-se todos da mesma maneira: conduzem em fila nas faixas do meio das Auto-Estradas a 90 Km/h. Porque a faixa da direita é para quem guia mal e para os pesados. Além disso, direita é um espaço maldito para os "margem Sul". E a faixa da esquerda serve para os loucos que querem desperdiçar gasolina em velocidade.

Os carros dos "margem Sul", têm sempre uma lâmpada fundida ou um farol a apontar para os olhos das pessoas. E só acendem as luzes dos automóveis, quando não se vê rigorosamente nada.
Os "Margem Sul", nunca fazem horas extraordinárias. Cumprem escrupulosamente os seus horários de trabalho, e correm como loucos para as filas de trânsito das 17 ou das 18h. E ai daquele que lhes tire os 5 metros de espaço que têm à frente. Adoram filas para tudo: para o almoço, para as caixas do supermercado, para os bancos, tudo. É um hábito genético.
Os "Margem Sul", só se divertem nos Centros Comerciais. E amam as suas terrinhas com casas de concepção de construtor "pato-bravo" e com cafés cheios de espelhos.
Politicamente são de esquerda, não por convicção, mas por conveniência. E aqueles que saltaram essa barreira de Berlim que é a condição de "Margem Sul", já esqueceram de como eram, em quem votaram, e insultam quem os relembra de como foram.


há-de ser post noutro lado