Estou nas calmas, mudo para a faixa da direita.
De repente, tudo trava. À minha frente, tudo o que vejo é uma descida em curva para a esquerda, com mais de 30 carros em paragem. Onde estou, não se percebe o que se passa para além dos 150m que vejo. Atrás de mim, ouço travagens. Ao meu lado e à frente, vejo mudanças de direcção aflitas.
Pouco depois, ao meu lado, retomam o ritmo normal. Mudar de faixa é complicado, porque já se roda a 100 em comboio compacto ao meu lado, mas continuo a 40... Finalmente consigo uma aberta e mudo rapidamente.
À frente da fila onde estava, segue um Lancia Y azul-violeta. Não vai a mais de 40km/h.
Enquanto avanço, tento perceber a razão daquele perigoso comportamento, mas nenhum sinal de avaria.
Num ápice, fito quem conduz. Não há sinais de tensão ou temor. Um rosto feminino alvo de porcelana, cabelo platinado pelo pescoço e com franja. Não é jovem, mas é bela. Tem a expressão mais ausente deste mundo...
Pergunto-me porquê a beleza não é poupada à desgraça, como às obras de arte condignamente expostas...
Heidi Mount
"Gritos mudos chamando a atenção para a vida que se joga sem nenhuma razão"
(xutos)
originalmente postado aqui, mesmo