Para entendermos o que se passou em 1975, temos de recuar um pouco no tempo e recordar que essa era uma época conturbada a nível mundial. Havia a crise do petróleo gerada pela OPEP desde 1973, e a consequente falta de combustível. Mais importante, a 25 de de Abril de 1974, um significativo grupo de oficiais das Forças Armadas Portuguesas, levou a cabo a revolução que terminou com o regime ditatorial fascista e, principalmente, que terminou com a Guerra Colonial.
Todas as forças políticas até então proibidas, foram permitidas e os movimentos que lutaram pela independência de Angola, instalaram-se nas cidades. Mas, no auge da Guerra Fria, em apenas dois meses esses movimentos ficaram fortemente armados e iniciaram confrontos bélicos entre si, o que levou à debandada das populações para qualquer sítio que fosse mais seguro.
E foi nesse cenário que se realizou praticamente toda a temporada automobilística de 1974.
Em Março de 1975 já havia guerra a sério um pouco por todo o lado. E muitos pilotos tinham saído de Angola e alguns tinham até levado os seus carros.
Observando este panorama, temos de considerar incrível aquela inconsciente paixão que tantos tiveram pelo automobilismo naquelas circunstâncias, iniciando mais uma época, dispostos a percorrer centenas de quilómetros de prova em prova, num lugar em guerra mas que amavam profundamente e onde queriam continuar a viver e a fazer viver.
E é assim que se inicia a temporada de velocidade de 1975. Em Moçâmedes, como habitualmente, nas Festas do Mar.
Para essa temporada, havia sido previamente apresentado o novo Team ETA, desta vez composto apenas por um carro, o Lola T292 Schnitzer de Mabílio de Albuquerque, que contava ainda com Hélder de Sousa para as provas internacionais de resistência:
O Team ETA, na época de 1974, tinha contado com nada menos do que 6 carros: 1 Capri GT de Grupo 1, 3 Lotus Europa da Fórmula TCA, e 2 sport-protótipos March 74. Os March foram alugados apenas para a temporada internacional. Os restantes, deixaram simplesmente de vestir a "farda" ETA/LIS em 1975.
Abaixo, uma imagem que ansiava por ver há décadas. Mostra o T292 dourado como os March LIS da época anterior. Eu lembro-me perfeitamente de ver este carro com esta decoração, em exposição na Autocal, junto à Sé de Luanda. Na altura, Luanda rebentava pelas costuras. Apesar da saída de Angola para locais mais seguros de uma larga percentagem de Luandenses, Luanda albergava uma quantidade muito maior de refugiados de toda a parte do território, a maioria à espera de viagem para fora de Angola. E assim, havia uma multidão como nunca vista nas ruas da baixa. Coladas à montra da Autocal, estavam permanentemente dezenas de pessoas a admirar o Lola dourado.
Na imagem do paddock, ao lado do Lola Nº1, está o Chevron Nº 11 de Waldemar Teixeira, coberto com uma capa azul.
Na fila do outro lado, reconhecem-se as frentes de um BMW 2002, do Lola T212 azul com riscas amarelas de Jorge Pego, do GT40 branco de Emílio Marta e da traseira branca e vermelha do Porsche Carrera 6 de Herculano Areias. Depois, um Capri de Grupo 1, etc.
Na pista, está o Lotus Europa Nº8.
Abaixo, a entrar no paddock, o Ford GT40 Nº4 com Marta e o Chevron B21 Nº11, com Waldemar:
Os primeiros classificados da corrida principal:
1º - Nº1 - Mabílio de Albuquerque - Lola T292 Schnitzer
2º - Nº2 - Jorge Pego - Lola T212 Ford
3º - Nº4 - Emílio Marta - Ford GT40
4º - Nº24? - Manecas Pereira da Silva - Lotus 74 Europa TC
Eis uma imagem da grelha de partida para a prova da Fórmula TCA, cortesia de Tino Pereira:
Essa corrida foi disputada taco-a-taco por Tino Pereira e por Eurico Lopes de Almeida:
E terminaram por esta ordem:
1º - Nº16 - Tino Pereira - De Tomaso Pantera
2º - Nº41 - Eurico Lopes de Almeida - Porsche 911 Carrera RS
3º - Nº8? - Fernando Soeiro - Lotus 74 Europa TC
E ainda houve a prova de Iniciados:
1º - Jorge Maló - Ford Escort Mexico
2º - Policarpo Fernandes - Mitsubishi Colt
3º - Acácio Silva - Ford Capri 3000 GT
Algumas semanas depois ainda se fez a corrida de Malange, mas notava-se ainda mais a falta de alguns dos principais protagonistas.
Depois, foi a despedida com quem pôde participar, na festa da Corrida da Solidariedade no Autódromo de Luanda.