segunda-feira, 27 de outubro de 2008

(oh hell)


Emily Haines & The Soft Skeleton - "Our Hell"

originalmente postado algures em 04-04-2008, 22:11

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Obrigado, Met

"Não haveis convertido um homem porque o reduzistes ao silêncio".
JOHN MORLEY


originalmente postado aqui em 2008-10-22, 00:09

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

peixe podre

As pessoas, cada vez menos me surpreendem.

Apresentaram-me em tempos um espaço modesto, mas muito agradável.
Com espaço. Muito espaço. Parecia uma praia virgem e deserta, podíamos escolher onde ficar e com quem ficar.
Levei para lá todos e tudo o que queria.

Chamava-se "mazungue". Assim mesmo, sem acento.

Chamavam-lhe também rio, e eu coloquei lá alguns barcos. Vários. Uns para tomar um copo, outros para falar de carros, outros para falar de música e escutar música... E vários outros.

Como mestre das embarcações, pediam-me para tratar do bom ambiente. Porque estava ali um "que é bom é com janelas de alumínio", porque o outro "vem aos berros e com os copos", outro ainda fez "10 páginas só com revistas e nem encontro o que tu disseste"... E isto foi só o início. Do fim...

Agora, o mazungue morreu. Ganhou um acento não se percebe para quê. E já nada tem a ver com aquilo que o norteava.
E depois?

Depois, as pessoas, cada vez menos me surpreendem.

Tinha um 'grupo' no meu 'mail-list' só com aqueles 'amigos'.
Esse grupo, trocava links sobre coisas interessantes, fossem criadas por quem fosse.
Há já algum tempo que nada enviava a esse grupo.
Excepto agora. Para protestar.

O G-mail permite ler o início do correio. Então, tive até uma resposta que nem abri. Eliminei-a logo sem a ter lido. Cuspia assim: "E de que estavas à espera..."

Outros foram amigáveis:

"... Foi uma atitude injusta, estavas quase só no meio daquela peixeirada toda."

"Amigo, estou contigo..."

Não me surpreende a falta de acção das pessoas. As pessoas, estão e ajem realmente isoladas. Não são solidárias, não lutam por uma causa, pelos amigos... Já nada as faz mover da poltrona.

Isto não me surpreende.

Mas este manifesto enviado a muitos, surpreendeu-me:

"Meu caro amigo:
... É absolutamente fantástica e fantasiosa a resposta que te deram. Isto depois de nos teres levado a TODOS para o mázungue. Eu lembro-me perfeitamente que quando entrei, aquilo pouco era mais do que um ponto de encontro de meia dúzia de pessoas,...
Quando começámos a intervir com regularidade, fizémos um pedido para termos uma tertúlia sobre os automóveis. ... Tamos à espera de quê para começar?
Grosso modo, era esta a minha intervenção.
Se não fosse o teu pedido, no mázungue nada existia sobre o desporto automóvel em Angola. Ou falava-se "ao de leve". Será exagerado falar assim? Não! É a verdade! Está lá escarrapachado. A não ser que apaguem!
Depois de muita coisa escrita, de muita brincadeira e de muita estória contada, veio uma das melhores ideias para dinamizar aquele que já era o espaço mais visitado do mázungue. Em boa hora, o Turza se lembrou do piloto da semana. Mas quem teve o trabalho TODO foi o tal "menino que faz birras", o menino que "precisa ir de férias", o menino que deu cabo de tudo... Foi assim que foste retratado, como uma criançola. Coitados, não conseguem ver o óbvio...
... Vamos para sítios menos poluídos, onde deixem os meninos como eu e tu brincarem. E depois cá estaremos para ver os crescidos: envenenam, publicam mails que não lhes são destinados, reencaminham outros e ainda têm o topete de virem dar sinais de pacificação. E mentem. Mas os meninos olham para as coisas que os crescidos fazem com outros olhos. ...
...Não posso já com o cheiro a peixe podre...
Caga nisso e continua a ser quem és. Eu, com esta idade já faço assim: quem gostar, gosta. Quem não gostar que se foda (assim mesmo, em vernáculo)."

sonho em 3D

às vezes vejo televisão...


Alex Weil ONE RAT SHORT

domingo, 19 de outubro de 2008

terça-feira, 14 de outubro de 2008

vou chamar os anjos...

...por aqui a inspiração e as fontes andas escassas...



originalmente postado aqui

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

RAIVA

Não gosto de deitar fora jornais e revistas, sem pelo menos "passar os olhos" por eles.
Por isso os deposito perto do "trono" no qual cago para tudo, para todos os efeitos.
Mais facilmente deito fora um livro qualquer, que comprei à força e sem interesse, enquanto "sócio" do Círculo de Leitores...

E ainda bem que não deitei fora aqueles jornais e revistas, porque teria perdido esta pérola:

«Não gosto de dizer mal de Portugal — será snobismo, mas a secular banalidade desse passatempo irrita-me a cútis. Ainda gosto menos de ouvir dizer mal de Portugal, e nisso sou tão vulgar como uma varina. Foi por isso com intensa vergonha que há três anos, por esta altura, assisti, com um grupo de ingleses, a uma reportagem da BBC onde se demonstrava que Portugal é um país tão pobre que, quando chove, as pontes caem e as pessoas morrem.
Agora, a decisão tomada pelo juiz de instrução Nuno Melo de arquivar o processo de apuramento de responsabilidades na queda da ponte de Entre-os-Rios vem provar que, ao contrário do que tentei explicar aos meus amigos ingleses — que Portugal não correspondia àquela imagem trágica, que aquele acidente era a excepção, funesta mas irrepetível —, tudo isto existe, e tudo isto é mais triste do que o mais velho fado.
«Causas naturais», reza a decisão, como se fosse natural a queda de uma ponte na qual quinze anos antes — quinze anos, senhores! — se detectara uma perigosa erosão. Em vão o povo da terra clamou por uma ponte nova ...
... Afinal, como depois da tragédia se viu na televisão, não era só uma ponte — eram dez, quinze, vinte, inúmeras pontes velhinhas que, por todo o país, estremeciam, até à hora utópica em que valores mais altos não se levantassem.
Se a culpa é afinal da chuva, pergunto qual é a solução: irmos todos a Fátima rezar para que não chova?

Recordemos: o autocarro levava uma colecção de famílias humildes, com muitas crianças e bebés, que haviam partido em busca das amendoeiras em flor do início da Primavera.
Raiva, é o nome de uma das povoações mais desfalcadas pelo inesperado mergulho do autocarro e de três automóveis, causando 59 mortos.
Raiva.
Se fosse ficção, acusar-nos-iam de pecar por redundância.
Mas Portugal é um país redundante — sempre foi essa a sua maior glória, é essa também a causa da sua imobilidade profunda.
Remoemos paixões e iras, lamuriamo-nos e deixamo-nos embalar pela música das nossas próprias lamúrias.
...
Enquanto o povo de Raiva aguardava, em silêncio, nas margens do rio negro, subitamente repletas de ministros e candidatos a ministro, que os corpos mortos dos que mais amavam saíssem da mortalha da água para o cemitério da terra (última esperança, e também essa em muitos casos frustrada), as chuvas arrasaram mais duas pontes — uma perto de Famalicâo, outra de Santo Tirso - embora, por sorte, mais ninguém tivesse morrido.
Os jornais contavam que havia 19 técnicos para inspeccionar as 3.500 pontes do país e sobretudo que, desde a extinção da Junta Autónoma de Estradas, a responsabilidade das pontes andava diluída numa maré de institutos sem competências definidas. Enquanto papéis e queixas boiavam sobre as mesas das repartições, a ponte cedeu, as pessoas morreram.
Amália cantava: «Povo que lavas no rio/ e talhas com teu machado/ as tábuas do teu caixão».
Amália também já morreu, mas o seu fado continua a assombrar-nos.
Trinta anos depois da descoberta da liberdade, vivemos ainda na cinza de um Portugal adiado pelo hábito da ditadura, mãe de toda a desresponsabilizaçâo. »

"Os mortos abandonados" em CRÓNICA FEMININA por INÊS PEDROSA, revista ÚNICA do EXPRESSO, escrito na 3ª fª anterior a 3 de Abril de 2004.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008